A professora e produtora audiovisual, Hadija Chalupe da Silva, de 28 anos, recebeu em março deste ano o Prêmio SAV, conferido pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, na modalidade Dissertação de Mestrado pelo trabalho – A distribuição do filme nacional – considerações acerca de cinco filmes lançados em 2005. O prêmio, voltado às Publicações de Pesquisa em Cinema e Audiovisual, foi lançado em 2009 e está na sua primeira edição. Também foram premiadas a Tese de Doutorado de Alice Dubina Trusz – Entre lanternas mágicas e cinematógrafos: as origens do espetáculo cinematográfico em Porto Alegre (1861-1908) – e a Pesquisa Independente de Leandro Valiati – Mercado de Cinema Gaúcho: Indicadores e Tendência – os dois do Rio Grande do Sul. Newton Guimarães Cannito, de São Paulo, ganhou a Menção Honrosa pelo trabalho – A TV 1.5 – A Televisão na Era Digital.
Hadija Chalupe, Bacharel em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos, UFSCar-SP, e Mestre em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense, UFF, e atualmente, doutoranda do curso de Pós-graduação em Comunicação pela UFF, descreve em entrevista sobre sua premiação e carreira.
Hadija recebe o título de Mestre
Qual é a proposição da sua Dissertação de Mestrado premiada?
R. Em minha pesquisa, proponho um estudo comparativo das formas de difusão e comercialização do filme nacional no mercado brasileiro contemporâneo, a partir da investigação de diferentes formatos de distribuição: os filmes feitos com uma grande campanha de lançamento (distribuição feita com mais de 100 cópias para exibição), dos filmes médios (abaixo de 100 cópias); os filmes miúras (filme de difícil entrada no mercado, em que o lançamento é feito com o menor número de cópias em sua exibição) e os filmes que conquistam o mercado exterior antes de iniciar sua carreira comercial nacional. Dessa maneira foram utilizados como objeto de estudo cinco filmes lançados no ano de 2005: Dois Filhos de Francisco, de Breno Silveira; Cabra Cega, de Toni Venturi; Casa de Areia de Andrucha Waddington; Cidade Baixa, de Sérgio Machado e Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.
Este foi o primeiro prêmio da sua carreira?
R. Na área de pesquisa, sim. As outras premiações foram na área de produção de audiovisual com o média-metragem documentário “Projeto Corumbá”, premiado como Melhor Documentário pelo Júri Popular no Segundo Festival de Cinema e Vídeo de Campo Grande em janeiro de 2005; Troféu Nego Chico – Melhor Documentário Júri Popular, no 28º Festival Guarnicê de Cinema em junho de 2005 que também foi premiado como Melhor Documentário na 1ª Mostra Audiovisual de Cambuquira.
O que esta premiação significa para sua vida profissional?
R. Este prêmio foi importante para mim em vários aspectos, mas o principal foi o auto- reconhecimento como profissional e pesquisadora, pois mesmo depois de anos na área, ainda me considero, em alguns momentos, como aprendiz. Algumas vezes caímos na tentação e nos perguntamos – Será que estou no caminho certo?! – para mim não houve melhor resposta que esta. É a resposta que qualquer profissional gostaria de receber. Esse reconhecimento me deixou mais segura e abrirá novas possibilidades para minha formação como aluna, pesquisadora produtora e professora de comunicação.
Em termos financeiros, houve algum retorno ou é um investimento pro futuro?
R. Este prêmio transcendeu as barreiras que o retorno financeiro pode proporcionar a qualquer profissional. Minha pesquisa será transformada em 1.500 livros que serão distribuídos gratuitamente por diversas instituições de ensino e bibliotecas de todo país.
Qual a relação da sua obra com a realidade brasileira?
R. Minha pesquisa é mais uma contribuição para a reflexão, questionamento e análise de como está sendo formado e estruturado o mercado cultural e de entretenimento dos brasileiros, com foco na produção audiovisual. O que conhecemos como “produção cinematográfica brasileira”, hoje, foi restabelecida há pouco mais de 15 anos, mas grande parte dos profissionais só encontra espaço no mercado por meio do apoio da esfera pública, representado principalmente pelas leis de incentivo. Além do mais, o acesso à cultura e entretenimento no Brasil é restrito, devido ao alto custo de ingressos (shows, teatro, cinema) e ao baixo poder aquisitivo da maioria da população. Dessa forma, trabalhos como esse conseguem identificar e analisar como os elementos mercado, público, produção e acesso estão sendo formados no Brasil.
Uma mensagem para os nossos leitores?
R. Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador, prof. Tunico Amancio, da UFF, e a todas as pessoas que me ajudaram de alguma forma a desenvolver essa pesquisa. Também gostaria de agradecer à Comissão Julgadora do Prêmio SAV, aos organizadores do evento, e a todos os envolvidos, principalmente, pelo incentivo e carinho que venho recebendo. O mercado de produção cultural brasileira vem crescendo e se profissionalizando, mas ainda tem muito que crescer e cabe a nós ajudá-lo a ser o que sempre almejamos.
por Jorge Castro, da equipe de Jornalismo on Line
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